terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Entrevista a Rodrigo Martins






Cacos? Peças de museu para efeitar? "Não, tencionava utilizá-las". Não foi difícil chegar ao motivo da entrevista - o porquê de um Rodrigo e não de um "relizador, um licenciado em cinema". O seu percurso parece-me peculiar. Tentou várias formas - sempre diferentes - de se aproximar do seu sonho. Também não é a esfera do normal que o caracteriza. Sempre sonhou mas nem sempre, talvez nunca, pisou um passo já dado, "uma já pegada" no caminho para o conquistar.


O percurso foi sendo o trilhar de caminhos que o pudessem levar ao mundo do cinema. Volta a ser a razão da entrevista. As várias estradas, cada uma com o seu sentido e objectivo, em que foi conduzindo o sonho.Foi querendo, desde pequeno, criar estórias. Começou daí. De fazer vídeos para os trabalhos da escola, de realizar os filmes dos aniversários de família com 12 anos, porque "tinha jeito". Aí, fazia aedição linear: duas ou três cassetes e dois leitores de vídeo para chegar ao the end. Crescendo um pouco, aderiu ao teatro e chegou mesmo a dar aulas desta disciplina a crianças, mas não seria a mesma coisa. Não era só o contar de estórias, o formato do grande ecrã chamava de volta ao caminho.




Como aluno, e tendo como base uma ideia para uma publicidade, começou a trabalhar em edição para a Faculdade de Engenharia. Julgava poder partir dos meios da própria faculdade para desenvolver competências e as suas ideias. Depressa juntou a essa função a operação de câmara e realização. Ao longo dos 5 anos em que foi responsável pela cobertura de vídeo dos vários eventos da instituição, teve ainda oportunidade de dar formação a novos colaboradores, passando um pouco da sua paixão.Mas a publicidade que inicialmente idealizou teimava em não ser produzida. A vontade institucional negava o esforço e, encontrando a oportunidade, tentou a RTP. Procurava, por meio de um curso de técnico, adquirir experiência e contactos em produções de terceiros. Não foi o bastante para produzir as suas próprias ideias.


Idealizado, o mundo do cinema não se deveria compadecer com limitações técnicas ou financeiras: actores, iluminação ou de outro tipo. É na Casa da Animação, que vai procurar quebrar estas barreiras, "papel e lápis pode ser o suficiente como meio para um grande trabalho" tentando uma breve incursão num espaço da criatividade cinematográfica que apenas se rege pela vontade do criador - do realizador; "é uma criação narcizista. Na animação o realizador apenas olha para si mesmo. O que consegue vem à imagem dos seus limites e qualidades. Mas claro, não substitui o cinema".


Não substituia. Confirmada a vocação e não esmorecido o sonho, faltavam agora os tais meios técnicos. A sua formação em engenharia, permitia-lhe compreender os intrumentos de que necessitava. Havia idealizado até uma série de alterações e inovações que, por melhorar estes equipamentos, entendeu como boa oportunidade de financiamento. Com um destes projectos, candidatou-se a um concurso de inovação e recebeu apoio económico tendo em vista o desenvolvimento ecomercialização destas ferramentas.

Actualmente, alia este desenvolvimento tecnológico ao seu grande sonho, a produção, e diz mesmo que se não se tivesse proposto a construir as suas próprias ferramentas, apesar de todas as experiências de aprendizagem, o percurso, ainda não estaria pronto a produzir.

Conhecer o entrevistado



Nasceu em Abril, 79. Gosta de cinema "desde pequeno. A minha avó é aresponsável genética por isto". Lembra-se do 1º filme que viu no grande ecrã, a Branca de Neve. "Era demasiado novo, passei o tempo todo a pedir chocolates à menina da frente". O 2º filme já foi diferente. Teria alguns 3 anos e o ET, segundo diz, foi o clic, desiquilibrou-se-lhe qualquer coisa em termos emocionais. Depois do filme passou duas ou três horas a chorar. Agora, percebe que o cinema comunica com ele pela oportunidade de vivenciar emoções de mais do que uma só vida. "Uma vida é pouco e no cinema podes ser tudo. Hoje és médico, amanhã super-herói. E se o filme estiver bem conseguido, é com total realismo que sentes cada uma das emoções, aventuras e desventuras da personagem".


Antevisão de uma conversa






Hoje vou a casa do Rodrigo. É uma entrevista. E por isso hoje interessa desenterrar a razão do cinema lhe ser a vida. O que ele fez para o fazer, o que ele ganhou, o caminho dele. Só dele. É o Rodrigo Martins, que começa este ano a produzir. Um dia vai ser realizador. É o mundo dele.


Sou conduzido pelo Rodrigo ao escritório, onde acordámos conversar, e o meu olhar vai tropeçando em cacos museológicos que, sem surpresa, foram encabeçando a conversa. Câmaras de super 8, 16 mm, um velho projector e mais uma série de aparelhos que não consigo identificar. Tudo mais velho do que o próprio. Não foi com ele que fizeram filmes mas foi sem dúvida com eles (os pedaços de museu) que ele imaginou muitos. Consigo ver que tudo vai dando às prateleiras e paredes estucadas de filmes a idade do próprio cinema e uma nostalgia que não é própria de 29 anos.